Peregrinatio

ad loca infecta

domingo, 31 de maio de 2020

Os falsos caminhantes

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Hoje já andei seis quilómetros. Quase parecia um caminhante, mas ainda não consigo disfarçar o velho sedentário que habita no meu corpo. As...
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sábado, 30 de maio de 2020

Narrativa sem nexo

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Há quem escreva longos poemas para desaparecer dentro deles, como se fossem um véu que a tudo ocultasse, o esconderijo seguro contra os bom...
sexta-feira, 29 de maio de 2020

Ir ao campo

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O que me vale é que não tarda e estou a caminho de casa. O texto começa mal. Não devia ter vindo ao campo. Cansa-me tanto bucolismo mecânic...
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quinta-feira, 28 de maio de 2020

Liquidem os objectos

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Os objectos tornaram-se exercícios difíceis. Portas, maçanetas, chaves, corrimãos, botões do elevador, terminais de multibanco, puxadores, ...
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quarta-feira, 27 de maio de 2020

Trocas neuronais

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A primeira palavra que escrevi continha um erro ortográfico, fruto de uma associação que poupo aos leitores. Fiquei a olhar para o teclado ...
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terça-feira, 26 de maio de 2020

A data em que a vida muda

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Nunca sabemos a data em que uma vida muda, foi o que pensei ao consultar o calendário. Nicolau II, da Rússia, foi coroado a 26 de Maio de 1...
segunda-feira, 25 de maio de 2020

Paisagens despovoadas

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Uma algazarra lá em baixo, mas as vozes calaram-se de imediato e tudo voltou ao silêncio que tem, não sem insídia, marcados os últimos tem...
domingo, 24 de maio de 2020

Aloquetes e cadeados

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Leio mais devagar. Pareço arrastar a leitura não por desinteresse mas por um qualquer motivo que desconheço. É possível que os olhos se can...
sábado, 23 de maio de 2020

Luz e trevas

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Nada o homem receia mais do que ser tocado pelo desconhecido. É com esta frase que começa o longo ensaio Massa e Poder , de Elias Canetti....
sexta-feira, 22 de maio de 2020

Do tédio e das papoilas

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Chegou o fim-de-semana, mas agora tudo parece contaminado. A semana entra pelo seu fim como se este fosse dado à utilidade. Aqui deveria a...
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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Dia da espiga

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Sem ser convidada, uma varejeira entrou pela janela. Zumbe e rodopia até que encontra a saída, devolvendo ao lugar onde me encontro o silên...
quarta-feira, 20 de maio de 2020

Rememorações em dia de calor

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Uma estranha conjugação de luz, vento e arvoredo levou-me para um mundo que desapareceu há muito. Olho-o estupefacto, é apenas um universo ...
terça-feira, 19 de maio de 2020

Perdido no mundo

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Sorrateiro, o Verão instala-se. Chega de garras afiadas, estiletes e punhais de luz sobre a pele, até que o ânimo sangre e uma preguiça se ...
segunda-feira, 18 de maio de 2020

Por que não te calas?

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Oiço o ladrar de um cão. Haveria de ser o ladrar de um gato ou de uma galinha, pergunta-me a minha consciência. Olho-a com desdém e não res...
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domingo, 17 de maio de 2020

Querido diário

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Quando me dispus a escrever este texto fui assaltado pela ideia de que todos eles constituem um diário. Daí a imaginação cabriolou e após ...
sábado, 16 de maio de 2020

Da poligamia semântica

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A buganvília púrpura exubera, mas a amarela parece moribunda, encostada a um pilar, incapaz de afastar o abraço sesgo com que a morte a est...
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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Aventuras no novo reino dos bonifácios

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Um pastel de feijão. Estou   falar a sério, até um bolo trivial se tornou acontecimento digno de registo, pelo menos do meu. A necessidade ...
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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Bátegas de água e dicionários

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Olho pela janela como se estivesse confinado. Um forte aguaceiro rompe o sossego com que o dia desliza para o fim. Uma bátega de água. Assa...
quarta-feira, 13 de maio de 2020

O mundo das árvores

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Há uma passagem do romance do italiano Giorgio Bassani, O Jardim dos Finzi-Contini , em que Micol se diverte à custa da suposta ignorância ...
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terça-feira, 12 de maio de 2020

Em estado catatónico

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Tenho uma relação difícil com a burocracia. Possuirei alguns genes avariados, ou mais avariados do que a norma, que me colocam em estado ca...
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