Os domingos deviam ser dias de silêncio sobre a Terra. Os homens poderiam murmurar, não mais do que isso. As invenções humanas estariam sossegadas sem debitar o ruído insuportável que as máquinas receberam de algum espírito malévolo. Isto seria uma espécie de ablução do espírito. Poucos são os seres humanos que suportam o silêncio. Funciona como um espelho e ninguém parece gostar de ver o que nele se reflecte. Isso abriria a possibilidade de escutar. Escutar o quê? O rumor do vento, o canto das aves, o pulsar do coração, o sussurro das coisas inanimadas, a música das esferas celestes. O domingo seria, assim, dedicado ao ritmo do mundo. Não ao dos homens, mas aquele que existia antes de termos chegado à vida e que persistirá muito depois de termos desaparecido. Entro pelo silêncio dominical e calo-me. Oiço os pássaros meus vizinhos e espero o ramalhar das árvores para escutar os passos esquivos do vento.
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