Durante parte substancial da minha vida, este era um dia de festa. Hoje – na verdade, há mais de duas décadas – é data de rememoração. Festa, rememoração, nada. Uma sequência inevitável, por muito que nós, mortais dotados de consciência, queiramos resistir-lhe e subverter. Por que razão as coisas têm de ser assim, não o sei, ninguém o saberá. Podemos especular sobre a fragilidade dos materiais de que somos compostos, mas isso é apenas constatar factos. Ora, os factos nada nos dizem. Limitam-se a acontecer. E isso não lhes confere qualquer sentido. Mesmo que os saibamos explicar pela sua inserção numa legalidade da natureza, enquadrá-los num esquema de causa-efeito ou num outro do mesmo género, isso nada nos diz por que motivo as coisas são como são e não de outra maneira. As leis da natureza não explicam nada. Mais: são elas que necessitam de explicação. Por que estas e não outras? Anaximandro via, nesse processo de vir ao mundo e de dele ser expulso, um acto de justiça que repunha as coisas no seu lugar, devido à injustiça cometida pela entrada no mundo. Há, nesta resposta, por ingénua que pareça, mais sabedoria do que numa explicação científica. Dá-nos um sentido, oferece-nos um porquê para a sequência: festa, rememoração, nada. A ciência explica-nos como as coisas acontecem, mas em nós nunca deixa de vibrar a pergunta que, na infância, repetimos vezes sem conta, até exasperarmos os adultos: Porquê?
Há dias, como hoje, que cada segundo responde: "que seja" para qualquer porquê, aqui pela parte que me cabe.
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