Esta manhã, ao fazer a caminhada diária, estranhei, sendo segunda-feira, o ar de domingo que o dia me mostrava. Poucos carros a circular e ainda menos gente pelas ruas. Uma caminhada solitária, quase num deserto povoado de fantasmas. Depois, ao ver alguns gatos a apanhar sol, sem preocupação com o modo de ganhar a vida, assaltou-me a ideia de que estivessem em dia feriado. Afinal, não eram eles, mas nós, portugueses, que celebramos mais um aniversário de nos termos visto livres de um rei espanhol, de uma corte espanhola, de uma monarquia que, apesar de se dizer o contrário, era, efectivamente, espanhola. Se há país de que gosto, é de Espanha. Contudo, nem por um minuto gostava de ser espanhol ou, pior, estar sob o domínio dos senhoritos de Castela e Leão. Também nada tenho contra os castelhanos, mas não quero ser castelhano. Por isso, acho bem que o dia 1 de Dezembro seja feriado e nos possamos congratular com a decisão do Duque de Bragança aceitar a coroa das mãos dos insurrectos e apagar as leviandades de um rei que julgava estar numa época, mas estava noutra. O que lhe foi fatal lá para as terras da moirama. A ele e a nós, que tivemos de acastelhanar durante sessenta longos anos. Merecemos o feriado, os humanos portugueses porque se libertaram dos castelhanos; os gatos porque não sabem viver sem feriados, e um mundo sem gatos, mesmo castelhanos ou leoneses, o que não era o caso, como me apercebi ao falar com eles, não seria a mesma coisa.