domingo, 26 de setembro de 2021

Inutilidades e aparências

O último post, neste blogue, foi publicado exactamente há duas semanas. Têm sido umas ricas férias. Não férias efectivas, mas um descanso de vir aqui todos os dias debitar inutilidades. Ora, quem tem propensão para o inútil, e esse é o meu caso, pouco consegue resistir a tentação de o cultivar. Terá o mundo mudado durante estas duas semanas? Eis uma questão completamente inútil. Claro que mudou e ainda mais claro que tudo continua na mesma. Andamos neste impasse há mais de dois milénios e meio, e ainda não encontrámos maneira ou modo de resolver a pendência entre o eleata Parménides e o efésio Heraclito. O melhor é venerar os dois, o que dará a aparência de erudição e ostentará um gosto pelo paradoxo. Importante é manter as aparências, pois não se sabe se sob elas existe alguma coisa. Há aquela história de o rei ir nu, embora toda a gente o visse com as mais belas roupas. Seria mais dramático, porém, se toda a gente comentasse a roupa do rei, depois outros afirmassem que ele ia nu, mas na verdade não existisse qualquer rei, vestido ou nu, nem outra pessoa, animal, planta ou coisa. Conclusão: mantenham-se as aparências pois são as únicas que sabemos existirem. Há no pavilhão da escola ali ao lado uma grande azáfama. Convocados às urnas, os eleitores para lá se dirigem para cumprirem o seu dever cívico. Também, não tarda, o irei fazer, embora a viagem não seja longa, pois, sentado na minha secretária, só não vejo as mesas de voto devido à existência de paredes exteriores no pavilhão. O mundo há-de conter sempre alguma imperfeição.

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