domingo, 23 de janeiro de 2022

Sem energia, o termómetro

Nem sei se este é o terceiro ou o quarto dia de reclusão forçada. Será que a quinta-feira conta como reclusão? Quando descobri que o vírus tinha marcado encontro comigo já era noite e não fazia qualquer intenção de sair de casa. Acho que não vou contar esse dia. A relação com o vírus tem sido amistosa, apesar do PCR ter confirmado a situação. Não sei se é um dos sintomas ou apenas um dano colateral, mas ontem vi três filmes do Eric Rohmer, A Coleccionadora, O Joelho de Clara e Amor às Três da Tarde. Dizia para mim, estou com pouca energia, o melhor é ver um filme. Hoje, domingo de sol pouco exuberante, espero não me perder pelos fantasmas morais e eróticos do realizador. Sempre posso ver um filme, mas o melhor é não exagerar. Olho para a minha secretária e parece que sou um hipocondríaco. Não sou. Tenho, em cima dela, um termómetro, um oxímetro e um medidor da tensão arterial. Estar rodeado por tanta tecnologia digital mostra bem como sou um homem moderno, embora, confesso, dispensasse de bom grado o termómetro digital e voltasse para os braços do velho termómetro de mercúrio. Este termómetro irrita-me. Primeiro que o coloque em situação de medir a temperatura demora o seu bocado. Depois, posto debaixo do braço, devo retirá-lo quando ele der sinal, mas o pobre tem uma vozinha tão débil que muitas vezes nem consigo ouvi-lo. Por fim, acho que sofre de anemia. Devolve-me temperaturas na ordem dos 36, 35,5 ou mesmo dos 35 graus. Falta-lhe energia, para lidar com a realidade. Também a mim.

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