sábado, 30 de setembro de 2023

Um contributo

Quase se podia dizer que o mar estava agitado. As ondas atingiam uma altura de uns trinta centímetros, quando se levantavam para logo morrer na areia com um baque surdo. Uma agitação destas só podia ser na baía de S. Martinho do Porto. Fui lá almoçar para fugir ao calor que por aqui anda desalvorado. A praia, onde não pus os pés, estava cheia de gente, como se estivéssemos em Agosto. Ainda dei um pequeno passeio pela marginal, mas também ali o calor era excessivo. De retorno a casa, passei por um hipermercado. Era preciso comprar qualquer coisa em falta. Tive uma iluminação. Percebi a razão que leva os portugueses a terem como lugar preferido as grandes superfícies. A temperatura. Nem na praia a temperatura é tão agradável. É verdade que a paisagem é monótona, os caminhos levam sempre aos mesmo sítios e a luz, apesar de intensa, parece sofrer de anemia, mas a temperatura tem suficiente poder para explicar a afluência. Leio que a Europa está a viver um Verão sem fim. Imagino que a solução seja abrir hipermercados por tudo o que seja sítio, para que todos os europeus, e não apenas os de Portugal, possam fruir do prazer de um clima fresco, sem necessidade de usar protector solar. A proliferação de hipermercados eis a minha solução para o aquecimento global. Enquanto tudo arde, nós passeamo-nos frescos entre prateleiras de massas e arrozes, de vinhos e cervejas, e arcas congeladoras de onde emana, como uma bênção, um frio contumaz que se propaga pela área, isto é, pela superfície, por norma grande. Bem tento ajudar, mas…

7 comentários:

  1. Entre arrozes e rebaixas
    E filas em romaria
    Esperam por nós os algozes
    Ali o frio não fia

    O melhor é aproveitar as ondas de
    S. Martinho.

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    1. O S. Martinho é pouco dado a ondulações, talvez no dia dele, lá para Novembro, ondule.

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    2. Mas deve dar para refrescar os pés (ou o pé). Repare, quando dizemos perdi o pé, queremos dizer perdi os pés. Se fosse no Macbeth era um pormenor importante, como me ensinou Javier Marías. Mas no mar-chão de S. Martinho, antes do seu dia, podemos estar descansados.

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    3. Curiosamente, não são os pés que se perdem, mas o ar. Talvez fosse melhor dizer que se perdeu o nariz.

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    4. Como o nariz que perdeu Gogol.
      Ou o olfacto, um sentido que perdeu o cheiro.

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    5. Ou um cheiro que perdeu o sentido.

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