segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Peroração

Desconfio que me precipitei no retorno a estas tristes publicações. Os afazeres acabam sempre por se avantajar, até ao ponto em que olhamos para eles e vemos gigantescos monstros. Um dia cheio e ainda não acabou. Só há pouco pude dar uma vista de olhos pela informação, o que contraria a prédica de George Wilhelm Friedrich Hegel, que não se coibiu de afirmar que a leitura do jornal é a oração da manhã do homem moderno. Imagino, no meu caso, que talvez não seja um homem moderno, talvez nem um homem, mas apenas um simulacro de ser humano. A quem oraria esse homem moderno ao ler o jornal, a que deus? Ao Espírito do Tempo, ao Espírito do Mundo? E que tipo de oração seria essa, uma oração peticionária? Como se vê, é sempre possível encontrar mil enigmas por baixo de cada pedra que, por distracção, pontapeamos no meio da rua. Magoamos os dedos do pé, mas, em contrapartida, somos assaltados por mil questões que, se as resolvermos, nos trarão a fama entre os sábios e a glória do mundo. Por hoje chega de peroração. Interlúdio musical.

3 comentários:

  1. Mais depressa iluminaria o meu cipreste moribundo
    Do que a divisória pirosa
    entre quintais

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  2. Ler jornais já foi uma coisa moderna, e nisto, como em tantas outras coisas, cansámo-nos de ser modernos, preferindo coisas mais próximas de serem atávicas embora sob a capa de muito modernas.

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    1. Sim, parece ser isso que está a acontecer, mergulhar no atávico. Talvez ser moderno seja demasiado pesado.

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