domingo, 7 de julho de 2024

A jactância da diferença

Há domingos que se perdem e deles não fica rasto no grande armazém da memória, como, no início do primeiro poema de A Ilha – Mar do Norte, Rainer Maria Rilke nos lembra: A próxima maré-cheia apaga o caminho no baixio, / e tudo se torna em todos os lados igual. Essa estranha disputa que anima os corações humanos, a que opõe a diferença à igualdade, tem sempre a mesma solução. A igualdade acabará por vencer, por grandes que sejam os esforços para a diferenciação, pois o baixio é o lugar dos homens e basta que a maré-cheia venha, e ela nunca deixará de vir, para que tudo retorne a uma mesmidade, onde não há lugar para se inscrever a jactância da diferença. Por isso, eu deveria ser mais comedido na lamentação de um domingo que morre na indiferença. Esse é o destino de tudo e de todos, a começar por mim. Acho que vou sair, caso encontre um restaurante aberto para ir jantar. A indiferenciação dominical cansou-me.

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