sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Vida quotidiana

Está um calor dos diabos. Foi o que me ocorreu ao acordar de uma sesta involuntária diante do computador. A culpa, para me poupar o sentimento de culpabilidade, atribuí-a ao almoço. Deslocado na capital para tomar conta de netas, chegado pela hora de almoço, aterrei num pequeno restaurante goês. Não é que tenha sido desrazoável, mas com o passar dos anos – ou das décadas, para ser mais exacto – o que seria quase uma refeição frugal transformou-se num excesso que, mal me sentei para escrever, me arrastou para essa figura deplorável de velho a dormir sentado não diante da televisão, mas de um computador. Não sei se fui acometido por algum sonho, mas desde que não tivesse dado sinais exteriores de perturbações oníricas, a situação é suportável. O mesmo não posso dizer caso me tenha entregado ao exercício de ressonar. Estou a tentar disfarçar, a evitar conversas. Enquanto isso, continuo a ouvir Luc Ferry, um filósofo francês que tem um conjunto de minicursos ou de conferências no Spotify. São excelentes, embora num registo que hoje é pouco apreciado em Portugal, onde se dobrou o joelho à filosofia anglo-saxónica. Quem quiser ficar com uma visão global da Filosofia e não tiver problemas com o francês, não será tempo perdido. Além de cursos sobre a história da Filosofia, existem outros sobre problemas contemporâneos onde é o filósofo que fala e não tanto o professor de Filosofia, excelente, diga-se. As netas ainda não chegaram a casa, elas que estão a retomar o ritmo escolar das sextas-feiras. Acabadas as aulas, programas com as amigas. Não tardará e dispensam a presença dos avós. Para piorar a situação, o mais novo já vai no segundo dia de aulas. Quando fizer seis anos, já levará dois meses de submissão à realidade. A realidade, porém, é que continua um calor dos diabos.

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