sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Broas dos Santos

Mais do que a totalidade dos santos, o que aqui se comemora no dia de hoje é as broas dos Santos. As famílias faziam as suas, numa produção privada. Hoje, porém, as coisas ficaram entregues ao comércio e a uma pequena indústria caseira. O resultado, deve-se reconhecer, é bastante bom. O facto de haver um mercado e de os fazedores de broas estarem em concorrência levou a um certo esmero na produção dos diversos espécimes. Já experimentei uma de café e outra de mel e nozes, compradas na frutaria aqui ao lado. E experimentar foi mesmo experimentar e não deixar-me arrastar pela tentação que representam para mim. Comi metade de cada uma. Esta frugalidade, tão em desacordo com o que acontecia outrora, mas num outrora cada vez mais longínquo, é o sinal dos anos. De um grande prazer, fica o pequeno consolo da sóbria experimentação. Contava ir para Lisboa. De manhã, ia ver o meu neto na sua aprendizagem de raguebista e almoçar em família alargada. A realidade, porém, não esteve de acordo, e tive de ficar por aqui, num dia cinzento, onde a melancolia se desprende das árvores e desliza, sorrateira, entre casas. Oiço a música de Carlo Gesualdo, o príncipe de Venosa. E tudo parece conjugar-se num espírito crepuscular. O melhor será levantar-me e assaltar as broas. Afinal, os Santos são hoje.