Talvez estejamos a passar por uma época em que a nossa relação com a verdade se está a alterar radicalmente. No século XVII, Thomas Hobbes ainda tinha uma visão ingénua dessa relação: A ignorância sobre o significado das palavras, que é falta de entendimento, dispõe os homens a confiar não só na verdade que não conhecem, mas também nos erros, e, pior, nos absurdos daqueles em que confiam. A ingenuidade reside em fundar a confiança nos erros e nos absurdos na falta de entendimento. O que se passa é que, mesmo com entendimento das coisas, muitas pessoas preferem o errado ao certo e o absurdo à verdade. A verdade e o certo trazem aos homens desconforto, pois tornam-lhes patente as fantasias em que navegam e os erros que cultivam. A verdade do conhecimento e a correção moral humilham a vaidade humana, e não há nada que mais enfureça os homens do que a sua vanglória ser posta à luz do dia. Qualquer candidato a tirano sabe que só será eficaz no seu caminho se alimentar a fantasia e os erros dos homens. Thomas Hobbes ainda vivia na longa sombra de Platão, na crença de que as pessoas fazem o mal porque desconhecem o bem. Ora, as pessoas fazem o mal porque, na maior parte dos casos, querem fazer o mal, mesmo que conheçam o bem.
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