Numa
dessas redes sociais famosas, a única que frequento – e de forma muito, mas
mesmo muito moderada – há um post, acabei de o ler, onde alguém proclama
que estudou os hábitos matinais de cinquenta multimilionários – o autor
escreveu bilionários – e descobriu que nenhum deles tomava banho frio ou se
levantava às quatro da manhã. Eis uma característica que partilho com essas
cinquenta figuras arquetípicas que, imagino, povoam os sonhos de parte
substancial da humanidade. Confesso que não fui ver os hábitos matinais daqueles
cujo talento transforma o chumbo em ouro. Não tenho vocação de alquimista.
Aquele post, e milhões idênticos, existe porque tornar-se milionário é a
única finalidade que emerge dos valores dominantes da sociedade em que vivemos.
Isto cria uma multidão de candidatos a milionários e, como consequência, uma
multidão de frustrados e ressentidos com a existência. Ora, se há uma coisa em
crescimento nas sociedades ocidentais é o ressentimento. Hordas de ressentidos pululam
nas redes sociais, nas ruas e, com maior intensidade, nas cabines de voto. Começam
por seguir os hábitos matinais dos cinquenta multimilionários e ao fim de um
ano estão mais pobres, claro. A saída é destruir o que estiver à mão. Toda esta
tontice já existia, mas em pequenas doses, uma doença controlada. As redes
sociais transformaram-na não numa epidemia, mas numa verdadeira pandemia, para
a qual ainda não se encontrou vacina. Pior, nem se está à procura.
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