segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Hábitos matinais

Numa dessas redes sociais famosas, a única que frequento – e de forma muito, mas mesmo muito moderada – há um post, acabei de o ler, onde alguém proclama que estudou os hábitos matinais de cinquenta multimilionários – o autor escreveu bilionários – e descobriu que nenhum deles tomava banho frio ou se levantava às quatro da manhã. Eis uma característica que partilho com essas cinquenta figuras arquetípicas que, imagino, povoam os sonhos de parte substancial da humanidade. Confesso que não fui ver os hábitos matinais daqueles cujo talento transforma o chumbo em ouro. Não tenho vocação de alquimista. Aquele post, e milhões idênticos, existe porque tornar-se milionário é a única finalidade que emerge dos valores dominantes da sociedade em que vivemos. Isto cria uma multidão de candidatos a milionários e, como consequência, uma multidão de frustrados e ressentidos com a existência. Ora, se há uma coisa em crescimento nas sociedades ocidentais é o ressentimento. Hordas de ressentidos pululam nas redes sociais, nas ruas e, com maior intensidade, nas cabines de voto. Começam por seguir os hábitos matinais dos cinquenta multimilionários e ao fim de um ano estão mais pobres, claro. A saída é destruir o que estiver à mão. Toda esta tontice já existia, mas em pequenas doses, uma doença controlada. As redes sociais transformaram-na não numa epidemia, mas numa verdadeira pandemia, para a qual ainda não se encontrou vacina. Pior, nem se está à procura.

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