Chegou o fim-de-semana. Existe neste um problema estrutural. É curto, demasiado curto, uma espécie de intervalo entre as duas partes de um jogo de futebol soporífero, a que o espectador assiste por dever ou devoção clubista. A vida semanal não passa desse jogo, em que uns participam por dever e outros por devoção, ambos movidos pela necessidade. Ora, o problema é que a necessidade é o que se opõe à liberdade. Sempre que alguém se move por necessidade está a negar a sua liberdade. Não há, porém, ser humano que não esteja submetido a um império de necessidades, isto é, que não esteja escravizado à necessidade que o habita. O fim-de-semana é apenas o vestígio de um tempo mítico onde nós, os sapiens sapiens, vivíamos no Éden. Contudo, não descansámos enquanto não arranjamos motivo para cartão vermelho. O árbitro, impávido e implacável, não se fez rogado. Expulsão. Não houve tribunal da relação para apelo. O fim-de-semana é apenas o resultado de um acto de misericórdia desse mesmo árbitro, que se condoeu dos jogadores expulsos, mas não revogou a sentença. Onde me encontro não chove. Vou entrar nesse espaço onde a necessidade se suspende e a liberdade reina por algumas horas. Intervalo.
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