Cheguei àquela fase em que arrumo as coisas nos sítios mais
improváveis. Talvez o destino dos seres humanos seja esse, fomentar improbabilidades
até que eles próprios se tornem improváveis e sejam varridos para o
esquecimento. Eu sei que este pensamento é soturno, mas nem sempre o brilho do
sol vespertino é suficiente para ofuscar o fardo da sombra. Num dos apartamentos
contíguos, alguém está apostado em furar a parede. O barulho da broca fende o
silêncio e zune-me dentro da cabeça. O mundo nunca é como nós o queremos,
constato não sem que me aproxime de alguma heresia. E enquanto vou escrevendo
estas coisas reparo que, mais do que é hábito, estou a trocar as letras ao
formar palavras. Trocas e heresias é tudo o que tenho. Há quem venda certezas,
outros mercadejam indignações, a mim, que sou cada vez mais improvável,
restam-me enganos. Podia ser pior.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
A mudez dos deuses
Outrora, os deuses falavam através das folhas dos carvalhos
batidas pelo vento suave vindo do mar. Lembrei-me disso ao olhar o sol
entristecido que desliza dos céus. Fevereiro nasceu vociferando grandes
chuvadas, mas já se arrependeu. Uma mãe apressada, ajoujada ao peso de uma mala,
conduz a filha praceta fora, entra para um prédio, fechando sem violência a
porta. Silêncio. A solidão do mundo desdobra-se sobre aquele lugar, onde dois
pombos poisam, para logo levantarem voo e perderem-se num telhado que não vejo.
A vida é sempre um exercício de mutilação. A cada instante, a faca de lâmina
afiada corta uma invisível fatia, para que a jactância humana seja reduzida ao
que é, a nada. O pior, penso, é a mudez dos deuses. Ou então sou eu que não sei
escutá-los quando murmuram no folhedo das árvores.
domingo, 3 de fevereiro de 2019
Economia de mercado
Envelhecer é cair na folhagem obscura de uma floresta sem
nome. Uma vez por outra sou assaltado por pensamentos destes, pensamentos em
que, como em certas filosofias, não se pensa nada, o que é um grande alívio.
Foi o que me aconteceu hoje, ao deslocar-me a uma aldeia onde, à beira da
estrada, os donos dos pomares vendem laranjas. Há dez anos, nunca pensaria
nisso, mas agora um patriotismo aldeão, atávico e despido de interesse, estende-me armadilhas
destas. O sol refulgia nas laranjas, os carros passavam mergulhados no domingo,
e a vendedora, vinda de um tempo onde nem como promessa eu seria pensado, cerzia
com cuidado o passado e o presente e oficiava, como sacerdotisa experiente e
pura, os velhos rituais da compra e da venda, dessa troca que abre caminhos por
dentro das mais obscuras e inomináveis florestas. E, enquanto regressava,
barafustando com a Antena 2 pelo programa que se lembrara de pôr no ar, só para
me irritar, constatei que não há nada como a economia de mercado.
sábado, 2 de fevereiro de 2019
Opinião
Mal abro o facebook,
este, desfrutando a intimidade que o uso confere, informa-me que está a pedir a
opinião a um pequeno grupo de pessoas. Imagine-se quem haveria de fazer parte
desse grupo restrito, uma verdadeira elite, a quem a opinião está a ser
solicitada. Eu. Fiquei lisonjeado. Até que enfim alguém reconhece a minha
natureza, pensei com os meus botões. O problema, ponderei, é que não tenho
opinião seja sobre o que for, muito menos sobre aquilo que o facebook há-de querer saber. Eu sei, eu
sei. Estou a mentir. Ter opiniões, tenho. Aliás, não me faltam opiniões sobre
tudo e sobre nada. O drama é que não consigo acreditar nas minhas opiniões.
Espantam-me sempre as pessoas que acreditam nas suas próprias opiniões. Como é
possível? Para mim, basta que uma opinião se apresente como minha para logo
deixar de acreditar nela. Resoluto, tomei a decisão de poupar o facebook às opiniões em que não acredito
e ao meu cepticismo contumaz. E assim abdico da glória de pertencer ao pequeno
grupo. Nunca deixarei de ser um átomo perdido na massa. Cada um é para o que
nasce.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
Fevereiro
Fevereiro chegou e não tenho, no bolso do casaco, nenhum
provérbio para o acolher. É sempre assim, quanto mais preciso de um ditado mais
ele se esconde de mim. O dia declina e a chuva na chuva anuncia a obscuridade.
O vento empurra ruídos incompreensíveis e os meus ouvidos, infelizes, recebem
esses prenúncios do inferno. Logo reparo que basta trocar o efe do inferno por
um vê para cair no inverno. Pouco cuidado têm os construtores lexicais ao
aproximarem palavras com temperaturas tão diferentes, meditei com desconsolo. Estamos
em Fevereiro e a rua parece um ribeiro, suspiro. Pelo menos rima.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
Perfil
O LinkedIn – eu tenho, embora não saiba porquê, uma conta LinkedIn – informa-me, manso e solícito, que há pessoas que andam a ver o meu perfil. Presumo que deveria exultar com tamanha curiosidade. Não exulto e nem sequer creio que tenha perfil para ter um perfil, mas se o tiver, por certo, será horrível. Que interesse haverá em ver tal coisa? O pior é que é capaz de chover quando sair de casa e não me apetece levar guarda-chuva. Bom seria que pudesse enviar o perfil que me andam a espreitar encontrar-se com a gente que estará daqui a pouco à minha espera. Talvez ninguém desse pela diferença e eu ficaria sentado e apócrifo a meditar sobre a ilusão e a realidade, ou a iniquidade que se esconde sob a capa das coisas banais.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
Espera
A tristeza desprende-se das nuvens em gotas ínfimas, paira
por instantes sobre a cidade e precipita-se, como um vício insensato, pelas
ruas. O que me salva é o vídeo do meu neto chegado através de uma daquelas
aplicações que teimam em aproximar a humanidade. Vejo-o esbracejar, quase
irado, e isso faz-me rir e dá-me ânimo. A arte da consolação não é esquiva nos
materiais que escolhe para distribuir a sua bênção. O vento sopra contra a janela, empurra a chuva e perante
os meus olhos desenham-se incontáveis universos de água, que logo se arrojam para
a arca negra da inexistência. Ninguém sabe o que fazer com a obscuridade do
dia. Uns esperam a luz, outros aguardam as trevas. Eu, pobre de mim, olho as
façanhas do rapaz e conto os dias que faltam para ele voltar cá a casa.
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
Colírio
Presumia que se não era imune a constipações, era-o quase. Jactâncias
destas não perdem pela demora e o mundo, com a sua balança inexorável e o despropósito
de um adolescente, lá me pôs no devido lugar. Mal dei por mim estava a vir da
farmácia, armado com os colírios que, dentro do possível, me hão-de devolver à
normalidade. Não se pense que estou mal dos olhos. A palavra colírio fascina-me
desde que, há muitos anos, a vi pespegada na capa de um tratado político do
século XIV, de Álvaro Pais. Reza assim o título: Colírio da Fé contra as Heresias. Não interessa saber o que a fé e
as heresias têm a ver com a política, mas que a metáfora é poderosa, parece-me tão
claro quanto obscura é a tarde de hoje. Os sulcos da consciência são um dia invernoso.
Tenebrosos e imprevisíveis. Uma constipação em pleno século XXI transporta-me
para o século XIV, como se não tivesse mais nada que fazer ou em que pensar.
Janeiro há-de acabar e a minha razão talvez encontre maneira de se esquivar à
descortesia e aos agravos que sobre ela faço cair.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Perturbação
O mundo quer ser distraído mas nós temos que o perturbar,
diz Minetti, o velho actor que dá nome à peça de Thomas Bernhard. É nisto que
penso enquanto me imagino caminhar, rua fora, cumprimentando conhecidos aqui e
ali, observando o movimento dos cafés, a inconstância do trânsito. O céu tem
nuvens cinzentas e as árvores acomodam-se, imperturbáveis na sua verdura, se a
têm, e deixam os ramos oscilar ao vento, como se embalassem um filho há muito
desejado. Pobre Minetti, compadeço-me, enquanto um bando de adolescentes passa imerso
nos seus códigos voláteis, a arquitectar aventuras que nunca acontecerão, cegos
para a velhice que neles se aninha. Quantos candidatos a perturbadores do mundo
conheci? Uma ambulância passa vagarosa e oiço o correr de umas persianas. O mundo
nunca foi outra coisa senão perturbação, afirmo distraído, enquanto fecho a
porta da casa onde guardo as minhas opiniões sobre seja o que for.
domingo, 27 de janeiro de 2019
Romantismo dominical
O sol desmaiado desta manhã de domingo faz-me lembrar o
romantismo com as suas as almas puras torturadas por paixões impossíveis. Seria
esta a luz que iluminaria os sofrimentos do jovem Werther e de Charlotte ou de
Simão Botelho e Teresa de Albuquerque. Tudo isto, porém, é literatura e a
realidade, com as suas garras de diamante, não se compadece com as minhas tendências
para o desvario. O melhor mesmo é suportar o vento frio, essa lâmina afiada que
rasga o rosto, e a claridade avara com que o dia se desdobra para manifestar,
aos olhos incrédulos, os seus segredos de polichinelo. Duas mulheres passam por
mim. Uma leva um lenço à boca e tosse, a outra fala, mas nenhuma terá sido
iluminada por um sol desmaiado num domingo lacerado pelas chagas do romantismo,
penso, talvez com injustiça. Nunca sabemos os mistérios que habitam na memória
de quem se atravessa no nosso caminho. Elas, indiferentes aos meus pensamentos,
lá seguem a sua rota sem paixão, enquanto eu espero, como quem aguarda o
autocarro, que um deus venha e me salve da inutilidade com que decidi revestir
a vida. Começa a ficar tarde.
sábado, 26 de janeiro de 2019
Grilos
Saí de casa já a noite se tinha afastado há muito, mas o
frio que, com silencioso esmero, ela semeara entrou-me pelo corpo, fez de mim presa
e subjugou-me a um império obstinado. É possível que a realidade não seja assim
tão dramática. Delírios e dissonâncias cognitivas é o que mais por aí há, e eu,
com a idade, sou cada vez menos imune a coisas dessas. Passa por mim uma
mulher, segue-a um cão, e nenhum, reparo, tirita. A manhã resvala e, enquanto
caminho, penso no cantar dos ralos. Fiquei surpreso. Nunca na vida tinha
pensado em ralos. Em grilos, sim. Um dia deram-me uma gaiola com um grilo e o
imperativo de o alimentar com folhas de alface. Julgo que morreu e não me lembro
de o ter ouvido cantar, mas naquela altura ainda não sabia o que era um
imperativo. Hoje sei-o bem, mas por enquanto não tenho idade suficiente para voltar a
ter grilos numa gaiola.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Saber de si
Cada um sabe de si, leio num post de protesto acerca de uma minudência qualquer. E fico feliz
por haver gente que até de si sabe. Eu sei cada vez menos coisas e, de mim, a
ignorância nunca foi exígua. Talvez isso seja efeito da sexta-feira. Há dias da
semana que possuem estranhos poderes sobre o que as pessoas dizem: inclinam a
vontade, torcem o sentimento, amarfanham a palavra. Depois, desce do céu, tão
azul que ele há pouco estava, um manto de ilusões, que cai sobre os ombros e
destrava a prosápia. Ah se cada um soubesse de si, as árvores não perderiam as
folhas no inverno nem os pássaros se recolheriam mais ao sul. Se cada um
soubesse de si, o vento vacilante da tarde levaria para longe as escamas que
cobrem os olhos. O silêncio, então, viria como um deus dançar embriagado pelas
ruas deslavadas desta cidade.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
Devaneio matinal
As noites são caminhos abertos na planície que nos levam
para a terra da transparência. Assim comecei a história, mas logo veio a manhã
e tantos imperativos trazia consigo que esqueci o que a noite me tinha ditado. Não é
a natureza que é uma floresta de símbolos, ponderei, mas o fluxo que o sono coa
para dentro da consciência. Árvores, ruas, um pregão ouvido há cinquenta anos, a
mão que brilhou diante dos olhos e incendiou o desejo de não mais a largar.
Depois, deixamos as palavras enraizarem, cuidamos delas, trazemos-lhe água e
elas florescem, para nos acariciarem, enquanto afundamos a cabeça na almofada e
esperamos que o mundo acabe ou um rio de pétalas desagúe por detrás dos
canaviais onde se esconde a infância. Ao menos tiveste uma infância, pensei,
enquanto lavava os dentes e espreitava não sem horror o rosto que despudorado o
espelho me devolvia.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
Aguaceiro
De súbito, um aguaceiro cobre os vidros do carro, desfoca a
paisagem, torna imprecisos os contornos de quem passa. Logo o limpa-pára-brisas,
a ruminar vaivéns, devolve ordem ao mundo e figura aos peões. Que monotonia de
ritmo, pensei, enquanto olhava um renque de velhas moradias, daquelas que, com
o passar das estações, já mal suportam o peso da sombra. Mura-as paliçadas de
tijolo e cal e por detrás destas avistam-se laranjeiras e limoeiros,
exuberantes na cor dos frutos, que se escapam dos promontórios verdes das
ramadas. Esta terra não deveria ter nome, murmurei. Não havia ninguém para me
escutar e eu ri-me, a pensar no amargo das laranjas e no brilho baço dos
limões. Os dias já estão mais longos e a hora melancólica do crepúsculo chega
cada vez mais tarde. Se soubesse o que fazer de mim, tudo seria mais fácil.
Assim, perco-me em taxionomias insignificantes e contabilidades sem deve nem
haver.
terça-feira, 22 de janeiro de 2019
Desconsolo
Depois de almoço tive de ir ao banco, no centro histórico da
cidade. Sejamos piedosos e não poupemos a hipérbole. Ao entrar, lembrei-me do
tempo em que não havia ali pessoa que não conhecesse. Agora, constatei, não sem
incredulidade, que nenhum daqueles rostos me dizia alguma coisa. Tentava
situá-los aqui ou ali, mas só o silêncio respondia à minha interrogação. A
cidade é exígua, o tempo, porém, não vacila e arrasta na voragem tudo o que foi
comum. Saí desconsolado pelo peso da ignorância. Uma ameaça surda pairava sobre
a minha inquietação. Janeiro é um mês cruel e estende as suas garras até aos
confins da memória. Quando esta sangra, então ele afrouxa os tentáculos e
deixa-nos à porta de um jardim onde ninguém nos espera. Olho as ruas, as
pessoas que vão e vêm, os escombros da velha vila a céu aberto. A vida, pensei,
é uma árvore calcinada pelas tentações de Inverno. Que catarse poderá pacificar
as almas?, perguntei, ao avistar os ciprestes do cemitério. O carro trouxe-me
rapidamente para casa.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Infrutuosidade
Um alarme dispara não sei bem onde. O som progride como um
insulto a quem escolheu o silêncio para esquecer a alegria do sol ou algum
dever que a vida, esse naufrágio entre dois esquecimentos, sempre traz no
aconchego da sua farta algibeira. Duas pessoas vão pelo passeio e o seu andar
lembra-me uma redondilha, e logo começo a escandir-lhes os passos, a
espreitar-lhe a prosódia, certo que também o mover dos corpos na rua obedece ao segredo de uma poética, que apenas a distracção nos faz ignorar. O melhor seria pensar
noutra coisa, reflicto, ser útil e dar à indiferença estes pensamentos que são
como flores feias e estéreis. O que vale é que o alarme se calou, e o dia mutilado
refaz a mão decepada e com ela acaricia a infrutuosidade de tudo o que penso.
domingo, 20 de janeiro de 2019
A porta do meio-dia
O vento ondula o arvoredo como se este fosse uma seara
arcaica trazida dos confins da terra. E eu aguardo o deslizar do dia, a espuma
das horas que se derrete ao sol, o rigor do esquecimento que a tudo há-de
trazer paz e purificação. Uma nuvem passa diante do sol e a luz entenebrece um
pouco, mas logo o vento leva a intrometida e deixa que os raios caiam como
punhais sobre os transeuntes. Estes vão em pequenos bandos, lembrando famílias
a caminho da igreja num domingo de há cinquenta anos. Com o florete das
palavras desenho na areia os frutos que me cabem, enquanto imagino o canto das
cigarras ou o sabor do vinho novo. Afasto-me das minhas paixões e cruzo o adro
da manhã para entrar, inútil e cego, pela porta do meio-dia.
sábado, 19 de janeiro de 2019
Anacrónico
Os pássaros que ainda há pouco tempo cantavam perto da minha
janela emudeceram. Eram pássaros tardios, sei-o bem, e há muito que deveriam
ter partido. O tempo fê-los perder a memória e confundiram a púrpura dos dias
com o fulgor do Verão. Também eu confundo os tempos e caminho pelo Inverno como
se ainda fosse Outono. Pensava em tudo isto, enquanto contemplava a mansidão da
luz batida pelas águas frias de Janeiro. Alturas há em que me assalta uma
estranha convicção: este não é o meu tempo. Sou, atavicamente, anacrónico.
Rio-me e pergunto se há outra coisa que possa fazer senão rir-me de mim mesmo.
Num poema de Eugénio Andrade encontro a afirmação o teu destino és tu. Não, o
meu destino não sou eu. Sou como os pássaros que emudeceram na minha janela ou
como a chuva que se calou tomada pelo peso da tarde. Se estivéssemos em Outubro
tudo seria perfeito, pensei, enquanto o meu destino galopa, incendiado e pueril, diante de mim.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2019
Desculpa
Esta chuva impaciente e frágil veio mesmo a calhar. Que boa
desculpa encontrei para não ir dar a minha caminhada profiláctica. Assim, fico
por aqui a ruminar sobre o desvario do mundo, a meditar na água que cai e na
bem-aventurança que ela é para a agricultura. Há quem tenha alma de caminhante,
mas esse, por um qualquer motivo que desconheço, não é o meu caso. Prendo-me
então ao flanco do silêncio e enquanto leio aguardo o crepúsculo que me há-de
anunciar o aconchego furtivo da noite.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
Notícia
Vai-se pela rua ou entra-se numa rede social e é-se colhido por uma notícia para a qual nunca há uma cesta preparada para a depositar. A terrível ceifeira, a desmemoriada que nunca esquece a vil ocupação, deslocou-se, fremente e impúdica, e cortou cerce onde não se esperava que cortasse. Faz-se, assim, em nós um grande silêncio. Contam-se os dias, os anos, os caminhos partilhados e as esperanças havidas e, por ordem inevitável do mundo, perdidas. Então uma espada de pez cai sobre o dia e tudo ensombrece, como se um exílio nos esperasse ou uma gaivota perdida apagasse o sol.
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