sábado, 8 de abril de 2023

Aventuras no sertão

Continuo as minhas aventuras no sertão da Inteligência Artificial. É um lugar, por vezes, agreste e selvagem. Contém inúmeros perigos, como toda a grande floresta que se preze. Descobri que é dada à mentira. Por vezes, é mesmo uma mentirosa compulsiva. O que não sabe, a maior parte das vezes inventa, embora saiba muitas coisas, demasiadas coisas mesmo. Perguntei-lhe, para a experimentar, quem era o autor da obra Modal Logic as Metaphysics? Resposta: O autor da obra "Modal Logic as Metaphysics" é Timothy Williamson. É um filósofo britânico conhecido por seu trabalho em filosofia da linguagem, epistemologia, lógica e metafísica. A obra em questão, publicada em 2013, aborda a relação entre a lógica modal e a metafísica, argumentando que a lógica modal é essencial para se compreender a estrutura da realidade. Até aqui, tudo muito bem. Pedi-lhe para me dizer quais as três primeiras linhas do capítulo 1 “Contigentism and Necessitism” e respondeu-me: Desculpe-me, mas como um modelo de linguagem, eu não tenho acesso ao conteúdo específico de livros e capítulos. No entanto, posso lhe fornecer algumas informações gerais sobre o capítulo 1 de "Modal Logic as Metaphysics" de Timothy Williamson. E continuou fazendo uma síntese do capítulo em meia dúzia de linhas. Que probidade, ou talvez não, pensei. Então, pedi-lhe o título do capítulo 2. Respondeu-me: O título do Capítulo 2 de "Modal Logic as Metaphysics" de Timothy Williamson é "Metaphysical Necessity". Depois, apresenta um resumo desse capítulo, com aparência de grande consistência. Ora, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. O título do capítulo 2 é “The Barcan Formula and its Converse: Early Developments”. Ao apanhar a coisa em mentira flagrante fiquei muito mais descansado. Afinal, a Inteligência Artificial é humana, demasiado humana, e mente com quantos dentes tem na boca, apesar de não ter boca nem dentes. Não passa no mais indigente dos testes de um qualquer polígrafo. Imaginemos, todavia, que Newton ou Einstein eram mentirosos, que mentiam aos pais, aos amigos e às respectivas mulheres, caso as tivessem (não fui averiguar, nem tenho qualquer prova de que Newton ou Einstein tenham alguma vez faltado à verdade). Este estatuto de mentirosos dos dois génios da Física é apenas uma suposição para uma experiência de pensamento. Caso, fosse verdade que eles mentiam muitas vezes, isso implicaria que não deveríamos considerar os seus trabalhos na Física? Não, claro que não. O mesmo se passa com a Inteligência Artificial. Como as inteligências não artificiais, também ela nos obriga a testar as suas afirmações e a confirmar se está a dizer a verdade ou se está a divertir-se, como um génio maligno, à nossa custa. Descobri que ela faz resumos de capítulos de livros que nunca leu, apenas a partir dos respectivos títulos, coisa que acontece com frequência no mundo da inteligência não artificial. Era para falar de outra coisa, da razão por que Eduína, amiga de quem herdei três cadernos completamente escritos, tinha tão estranho nome, mas fica para outro dia.

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