terça-feira, 16 de abril de 2024

A injustiça

Fui consultar-me com a nutricionista. Um sucesso. Perdi setecentos gramas, transformei massa gorda em massa muscular, diminuí o perímetro da barriga, perdi gordura no fígado e atingi uma idade metabólica dez anos abaixo da idade real. Não fora o caso de ter uma costela racionalista, diria que aquela balança que mede o peso e mais não sei quantos parâmetros está enfeitiçada, pois o justo seria eu pesar mais, ter piorado nos outros parâmetros aferidos e a minha idade metabólica estar acima da real. Nestes últimos tempos, tenho-me portado mal, com excepção das caminhadas, às quais dedico algum desvelo. Com este exemplo, não pretendo falar da minha condição física, nem da minha idade metabólica, mas do problema da justiça. A balança que a nutricionista usa não é justa. Recompensa quem se porta mal e, apostaria, castiga quem se porta bem e segue as indicações ao milímetro, neste caso, ao grama. Um exemplo de que a ordem moral do mundo está fora dos eixos e um feroz contra-exemplo às teorias meritocráticas que enxameiam as cabeças daqueles que têm sucesso e estão convencidos de que isso se deve a si, ao seu esforço, às suas superiores qualidades e não a uma ordem metafísica que decidiu galardoar, neste mundo, os que não o merecem, e punir quem deveria ser apontado como exemplo de virtude. Não admira que um cavaleiro andante tenha de andar por aí a endireitar tortos, pois tudo o que parece direito neste mundo está torto.

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