quarta-feira, 10 de abril de 2024

Família tradicional

Há por aí um charivari por causa de um livro que tem por título Identidade e Família. Como narrador, ainda não consegui perceber se a algazarra se deve ao livro ou ao que alguns dos seus autores não se cansam de proclamar. Talvez se deva às duas coisas e a outras que não descortino. Parece que o problema principal é o papel das mulheres. É um problema pertinente, fundamentalmente, para os homens. Estão cada vez mais sem saber o que fazer perante mulheres que não se sentem inclinadas para que sejam eles a determinar o que deve ser a sua, delas, vida. Ainda não consegui perceber o que atormenta a parte masculina deste nobre povo. A emancipação das mulheres é, também, a emancipação dos homens. Liberta-os de terem de pensar como controlar a vida delas, o que lhes dará tempo para concentrarem-se na gestão da sua, o que não é tarefa fácil. São dignos de dó os homens da Arábia Saudita. Têm de controlar a sua vida e a das mulheres, e alguns, não muitos, podem ter até quatro mulheres. Percebo que sejam poucos, pois controlar a vida de uma mulher já é o que é, quanto mais de quatro, o limite permitido por lei. Não estamos na Arábia Saudita, dir-se-á, e eu estou de acordo. Contudo, quando falamos de herança islâmica estamos a falar de quê? Uma parte dos homens portugueses, mesmo daqueles que andam de cruz ao peito e pelam-se por ceias com cardeais, têm um gene mouro, que nem a cruz nem os cardeais conseguem tornar recessivo. Por vezes, juntam-se, põem-se a pensar no bom que era a família tradicional. Por mim, acho que fazem muito bem e até lhes faço uma sugestão. No fim de cada sessão, podem cantar em coro e como hino o seguinte: Que família tão unida /tão discreta e ordenada. / Eram oito fora o gato, / eram oito fora o gato / para não falar da criada. / Da criada e do patrão / e da vizinha do lado. / É a crise da habitação, /é a crise da habitação. / É preciso ter cuidado. Nem sei por que razão aceitei narrar este episódio social, eu que não tenho interesses sociais e sofro de acentuada misantropia, a qual não cai do nada, como ontem salientei.

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