Chegou a altura de nos lamentarmos por anoitecer tão cedo. A mudança da hora terá por finalidade, duas vezes por ano, gerar uma certa perturbação no ritmo de vida das pessoas. Haverá ainda uma outra finalidade, mas que está em vias de se tornar destituída de sentido. A de acertar o relógio pelo novo horário. Ora, nos tempos que correm, consulta-se as horas em muitos dispositivos digitais, os quais nos roubam o prazer do acerto, tomando-o eles próprios para si. É certo que existem ainda muitos dispositivos, entre eles relógios, que não fazem alterações horárias automáticas, mas lá chegaremos. Resta o prazer de perturbar a vida das pessoas. Diria que essa é uma das prerrogativas dos poderes deste mundo e, apesar da sensatez que seria evitar essas perturbações, aqueles que têm o poder de determinar a hora oficial não evitam a perturbação, pois se o fizessem seriam despojados de um poder, coisa que os perturbaria a eles. Entre a perturbação dos muitos que têm de seguir a hora oficial e a perturbações dos poucos que têm o poder de a determinar, estes últimos agem do modo mais racional possível. Defendem os seus interesses e evitam a sua perturbação por não poderem perturbar os outros. Esta é a explicação mais plausível jamais dada para justificar aquilo que não tem justificação, andar a mexer nos ponteiros dos relógios, ora adiantando, ora atrasando. Fico-me por aqui. Hoje já contribuí para decifração de um dos mistérios que atormentam o mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário