sábado, 22 de novembro de 2025

Caminhada

Fui caminhar de manhã. O frio era iluminado por uma luz vibrante e tudo parecia mais vivo, mesmo a natureza morta onde vivem os objectos. Numa das ruas por onde passei, havia gatos. Cismavam ao sol, silenciosos, imóveis, e nisso pareciam os velhos que, na minha infância, via parados, pensativos, sem dentes na boca ou palavras nos lábios. Tal como os gatos de hoje, eram mudos, temiam que as palavras lhes levassem o calor que o corpo recebia, como uma dádiva de um deus avaro. Depois, ao dobrar a esquina da rua, os gatos desapareceram do horizonte e eu esqueci esses anciãos agrilhoados na infância. Entreguei-me à luz solar, enquanto meditava nas coisas do mundo e aguardava o momento em que chegaria ao lugar de onde parti.

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