terça-feira, 25 de novembro de 2025

Militâncias e filosofias

Há coisas que não devia fazer, mas continuo a fazê-las. Por exemplo, comprar um livro – um ensaio de um filósofo contemporâneo – que, à partida, tem tudo para me desgostar. Foi o que aconteceu. Comprei-o e, sempre que o abro para ler isto ou aquilo, a única coisa que encontro é o meu desgosto por aquela prosa enfática, semeada de referências, cheia de entusiasmos. Talvez o autor, quando escreveu a obra, tivesse suspendido a sua condição de filósofo. Ou talvez nunca a tenha tido, mantendo apenas uma aparência cultivada de modo militante. Julguei, por instantes, que entre a Filosofia e a militância haveria um conflito irreconciliável. Depois, pensando melhor, descobri que, desde a origem, os filósofos tiveram uma certa inclinação para essa militância. Platão, com as suas estapafúrdias tentativas de converter tiranos em políticos racionais ou com a fundação da Academia. Também Aristóteles não fugiu à tentação, ao aceitar o cargo de educador de Alexandre. Estes exemplos são mais do que factos, são modelos. Por isso, é natural que haja filósofos – ou quem ostente essa designação – que se sintam tentados a copiá-los. Apesar desta reconsideração sobre a relação entre Filosofia e acção política, não consigo deixar de sentir desgosto – por vezes, confesso, vergonha – por aquela prosa, que seria excelente caso não fosse produzida.

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