quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A dama do Tivoli

Acordei ainda bem antes do despertador anunciar que a hora de sair da cama chegara. Tinha tempo e faltava-me sono. Pego no meu leitor de livros digitais e leio um pequeno conto, umas dez páginas, A dama do Tivoli, de Knut Hamsun. Como acontece sempre com as obras deste autor, fiquei preso ao texto. Acabei de o ler e ainda esperei pela hora de despertar. Há pouco, porém, quis lembrar-me do desenlace da narrativa e ele tinha-se apagado. O que teria acontecido? Fiquei perplexo e temi que ao despertar, como acontece quando sonho, a história se tivesse diluído na minha consciência. Depois, fiquei na dúvida se teria de facto acordado e lido o conto ou se tudo isso não passava de um sonho que teimava em persistir. Agora, porém, sei que não estou a sonhar. O dia resvala veloz e esbranquiçado, uma mulher de casaco amarelo transporta um saco de papel preso ao braço, atravessa a passadeira e perde-se no lado oculto da avenida. De seguida, um homem de máscara azul caminha sem pressa, olha, atónito, para a esquerda e para a direita, enquanto os carros passam furtivos. É triste a história da dama do Tivoli, como são tristes os transeuntes que passam pela avenida, como é triste a cor do céu nesta quarta-feira. Ao menos, podia chover. Seria bom para a agricultura e ajudava a encher as barragens.

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