sábado, 11 de novembro de 2017

Fantasmas

Desloco-me pouco dentro da cidade. Os caminhos que preciso de percorrer em Torres Novas não o exigem. Esta tarde, porém, depois de ir visitar a minha mãe, atravessei a ponte do Raro e dei uma volta pelo centro. Como se tornou hábito, sempre que o faço, desce sobre mim uma melancolia que nem a luz, ainda tão clara, consegue disfarçar. É como se tivessem roubado o espírito da velha vila onde cresci. A memória retém imagens de bulício, cenários de uma vida real marcada pelo ardor com que a esperança traçava um horizonte, para onde a existência de cada um se dirigia. Agora, mesmo nos melhores momentos, há uma sensação de tristeza e de abandono. É necessário fazer um esforço para perceber que as pessoas que avistamos são reais e não meros simulacros. É um exercício penoso viver entre fantasmas, ser um fantasma entre fantasmas, pensei, enquanto dirigia o carro para longe daquele espaço onde, há muito, houve uma vila que transportava, orgulhosa, séculos, talvez milénios de história.