quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Fiéis Defuntos

Não ontem, mas hoje, sim, é o dia de Fiéis Defuntos. Consta que a tradição se teria iniciado no século II. Os fiéis oravam pelos mártires. Mais tarde, pelo século V, a Igreja dedicou um dia para que se rezasse por todos os mortos, por aqueles de que ninguém se lembrava já. Este exercício mnemónico fascina-me, como se ele fosse o resultado de um saber arcaico, uma sabedoria que não desiste de nos recordar que somos, todos nós, devedores de uma longa tradição genética. Sem cada um desses membros esquecidos da cadeia que nos liga ao início da vida, não existiríamos. Haja então um dia em que os possamos recordar, trazê-los ao coração. Não comprei crisântemos e não irei ao cemitério. Nunca o faço nestes dias. Trago, porém, os meus mortos comigo. Aqueles que conheci e amei e aqueles que teria amado se me tivessem dado essa possibilidade. Por vezes, dou comigo a falar com um ou outro dos meus avôs, os quais morreram muito antes que qualquer um dos seus netos tivesse nascido. Apesar disso, compreendemo-nos muito bem. Eles, como eu, sabem o quanto lhes devo.