sexta-feira, 18 de junho de 2021

Cruzamentos

Sem que se perceba a razão cruzam-se no horizonte das pessoas coisas que têm entre si uma conexão, mas que não foram procuradas por esse motivo. Há pouco, estive a ver o filme Vergonha, de Ingmar Bergman. O tema é a guerra. Tinha também começado a ler Kaputt, de Curzio Malaparte, com o mesmo tema, embora a experiência do italiano seja muito mais real. Talvez existam no espírito correntes subterrâneas que, apesar de desconhecidas, se manifestam nestas aparentes coincidências, mas que não serão mais que o resultado visível de um diálogo invisível que atravessa o fundo obscuro que há em todos nós, como existem em certos rios terríveis correntes sob a calma tranquila de lençóis de água benevolentes. Agora, o anoitecer é prolongado, como se o tempo se dilatasse e houvesse um medo real das trevas. Começou o fim-de-semana, o tempo parece não estar propício para grandes deslocações. Lisboa está sitiada aos fins-de-semana. Muitas são as formas que a guerra toma. Umas visíveis, outras invisíveis.

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