quinta-feira, 24 de junho de 2021

Nostalgias

Há certos objectos com que estabelecemos uma relação funda, talvez porque nos tenham proporcionado um prazer, que já não conseguimos identificar ou explicar, mas que continua a viver nos subterrâneos da nossa consciência, ou talvez tenham despertado uma nostalgia incompreensível. Desses objectos fazem parte dois filmes. Não que esses filmes sejam realizações estéticas extraordinárias ou porque contem histórias avassaladoras. Tratam-se de Um Táxi Cor de Malva (1977), de Yves Boisset, e A Festa de Babette (1987), de Gabriel Axel. Aquilo que me prende a esses filmes é a sua atmosfera, uma certa ambiência despojada. O primeiro passa-se na Irlanda; o segundo, na Dinamarca. Não faço ideia por que razão me lembrei desses filmes agora. Talvez eles tenham vindo em meu socorro, dando-me motivo de escrita. Talvez exista em mim algum gene que pertence a esses mundos, de terras frias, e que tenha, em desespero perante o calor que cai por aqui, acordado uma nostalgia de alguma coisa que nunca vivi. Essas nostalgias, porém, são as mais duradouras e consistentes, as mais próximas da verdade. Um dia destes vou rever, mais uma vez, esses filmes, já que não posso voltar a lugares a que nunca pertenci, onde nunca vivi, onde nunca estive.

2 comentários:

  1. Gostei muito de A Festa de Babette, filme e livro. Aliás, gosto imenso dessa escritora que também nos contou que teve uma quinta em Âfrica num grande livro, que também originou um grande filme.
    Ainda me lembro bem destes livros e filmes, que tenho cá em casa.
    Quanto ao Um Taxi Cor de Malva, vi-o há muitos anos mas não consigo lembrar-me da história :-(

    Boa noite, HV.

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    1. Não li o livro da Blixen. Aliás, é uma autora que nunca li. Tenho de colmatar mais esta falha, embora não se possa ler tudo o que merece ser lido.

      Bom dia, Maria

      HV

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