sábado, 11 de junho de 2022

Do cultivo das aparências

Este sábado está a decorrer de modo anómalo. Comecei por fazer uma caminhada, a meio da manhã. Onde estou, a temperatura é muito moderada e o céu matinal estava coberto de nuvens. Os seis quilómetros de exercício renderam-me 72 pontos cardio. A OMS recomenda um mínimo de 150 por semana. Aceito a recomendação, embora não saiba muito bem para que serve. Quero parecer obediente. É um facto que apenas quero parecer e não ser, mas se todos cultivássemos as aparências o mundo seria um lugar muito melhor. Imagine-se um exemplo. Os dirigentes de um país estão cheios de vontade de invadir outro e destruí-lo. Contudo, prezam muito as aparências e evitam fazê-lo para não passar por belicistas e selvagens que, na verdade, são. Como se pode inferir, o cultivo das aparências é a salvação do mundo. Não há coisa pior do que essa ideia atoleimada de alguém querer mostrar o que é. Que guarde para si o que é e mostre aos outros um comportamento benévolo e afável. Estou a desviar-me do assunto. Estava a falar da anomalia do dia. Ora, para além dessa epopeia de caminhar seis quilómetros, tenho estado a descarregar uma série de romances, caídos no domínio público, de autores portugueses nascidos no século XIX e que escreveram nesse século ou no início do seguinte. Descobri uma coisa espantosa e anómala (daí a anomalia, que nada tem a ver com o conceito daquele autor que trouxe o conceito de paradigma para a ribalta, de tal modo que não há cão nem gato que não fale de paradigma). As universidades americanas e canadianas compravam a literatura portuguesa – e de muitos outros países, imagino – desse tempo para enriquecerem as suas bibliotecas. Não se pense que eram apenas os grandes nomes como Garrett, Herculano, Camilo, Júlio Dinis, Eça ou Antero. Por exemplo, Guilherme Centazzi, Manuel Pinheiro Chagas, Faustino da Fonseca, Arnaldo Gama, Joaquim Leitão e muitos outros. Fiz uma recolha interessante, num certo site americano, coisa de gente boa, interessada em partilhar o que está esquecido. Mesmo que quem o faça seja para manter as aparências, o benefício geral é imenso. Eu estou grato, a eles e às aparências.

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