domingo, 12 de junho de 2022

Num limbo

Não tarda e terei de regressar a casa. Segundo sou informado, as temperaturas na pequena cidade onde levo a existência quotidiana terá chegado perto, demasiado perto, dos 40 graus. Nem sei bem o que dizer, pois só de pensar no caso sinto uma vertigem. Por aqui o tempo está espantoso, 21 graus, apesar de haver sol. O meu neto veio passar parte do dia comigo. Nos seus três anos e meio conseguiu arrastar-me à praia, um sítio que evito. Há qualquer coisa que os netos possuem que contamina os avós e os leva a fazerem coisas que, noutras circunstâncias, se recusariam a fazer. Depois, os netos vão-se embora e os avós ficam sozinhos, entregues a si num mundo que começa a não ser o deles. Nunca foi, claro, mas havia a ilusão de se pertencer a uma certa realidade, onde se reconheciam sem questionamento regras e hábitos. Agora, tudo começa a estranhar-se. Nessa estranheza emerge uma inquietação, e esta sublinha a distância, cada vez maior, entre o mundo a que se pertence e o mundo que existe. O mundo a que se pertence já não existe. O mundo que existe não tem lugar para nós. A partir de certa altura da vida entramos num limbo. Nem estamos no paraíso nem no inferno. Estamos em nenhures e quem vive em nenhures por certo não será coisa alguma. Há domingos que deveriam ser substituídos por outra coisa, talvez por um sábado. Seriam mais tranquilos, imagino.

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