quarta-feira, 29 de junho de 2022

Sem narrativa

Há dias como o de hoje em que até um cavaleiro andante se sente no desemprego. Sem tortos para endireitar, sem mundos para pôr nos eixos, logo sem aventuras para delas dar notícia ao mundo. Fui à capital de distrito, que é um lugar aonde gosto de ir, mas nem aí se apresentou caso digno de menção. Diante de mim, acumulam-se as tarefas a que a minha diligência há-de pôr fim, embora esteja pouco inclinado para ser diligente. Está vento, sei-o porque vejo o ramalhar das árvores. As cevadilhas da escola aqui ao lado já perderam as flores. Estavam, ainda há dias, tão exuberantes, mas não suportaram a vinda do Verão. Não estou só no mundo. Na avenida, os carros passam devagar, não vá algum peão intrometer-se no reino dos automobilizados. Também devagar, vão os transeuntes. Algumas mulheres preocupam-se com as saias. O vento tem súbitos atrevimentos, mas ninguém estará interessado em ver aquilo que as saias deixam de tapar. O que me preocupa, neste momento, é o friso das orquídeas. Este ano, as coisas não correram pelo melhor. Umas ainda não floriram, outras deixaram as flores murchar rapidamente. Tivesse eu tempo, e falaria com Nero Wolfe. Ele, entre a resolução de dois crimes e três jantares, haveria de me dar uma solução para as pobres orquídeas. Não tenho tempo, infelizmente. Ah… a Arminda casou com o Gustavo. Estavam noivos e casaram. Isto vem a propósito de quê? De nada, mas talvez amanhã explique, caso deseje tornar-me um émulo do folhetinista Cerdeira.

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