Uma noite mal dormida. Melhor, não dormida. Só agora começa a ter efeito sobre mim, escondendo-me a energia que ainda deveria ter para enfrentar o resto do dia, com os seus imperativos. Ora, essa falha invade-me a memória e cai com lassidão sobre o corpo. Bocejo, luto para ter os olhos abertos, escrevo estas frases, metade das quais com erros de digitação. O sol amareleceu e, depois, entregou o horizonte à noite. Os pássaros entoaram-lhe um cântico, como se louvassem um deus. Procuro as razões da insónia. Não as encontro. A memória não as reteve ou, talvez, não tenham existido. Fixo com firmeza os olhos nas árvores do pequeno bosque da escola vizinha. São vultos sombrios, parecem conspirar. Murmúrios deixam entender a audácia do projecto, mas o corpo permanece indiferente aos caminhos do mundo. Se me recostar na cadeira, adormeço, ou sonharei que adormeço, ou sonharei que estou a sonhar que adormeço. A realidade, como se vê, é muito mais complexa do que aquilo que se está disposto a admitir. Há dias em que tudo parece simples e o coração enche-se dessa simplicidade. Outros, porém, tudo se torna complexo e não sei o que fazer, preso ao sonambulismo, com essa complexidade. Ir dormir, oiço-me dizer.
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