terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Palavras equívocas

Resisti a comprar uns livros do filósofo francês Alain Badiou. A resistência é uma modalidade de se relacionar com a tentação. Que outras modalidades haverá? Talvez existam mais do que se possa pensar. Isso, porém, é assunto que não me interessa no anoitecer deste dia. O que me interessa é a distinção entre verdadeira e real. Ainda por causa de Badiou. Estava a percorrer a listagem dos seus livros, numa venda online, e deparo-me com uma edição portuguesa com o título Metafísica da Verdadeira Felicidade, mas logo de seguida apareceu-me a edição francesa:  Métaphysique du bonheur réel. Isto mostra a elasticidade do termo verdadeira. Pode designar que uma certa afirmação está de acordo com os factos. Por exemplo: Lisboa é a capital de Portugal. Como pode designar que uma certa coisa tem realidade. Como não conheço o livro, não sei se a tradução de réel por verdadeira está ajustada ao conteúdo. Todavia, caso fosse eu o tradutor manteria o título o mais próximo possível do original: Metafísica da Felicidade Real. Qual o motivo? Já o título original tem três palavras e todas elas são bastante equívocas, a começar por metafísica. A troca de real por verdadeira acrescenta equivocidade à equivocidade. Soa bem em português, mas imagino que num tratado de filosofia não seja o som que esteja em causa, mas o sentido, isto para usarmos essa feliz expressão som e sentido que alimentou, em forma de querela, não pouco debates no campo da poesia.

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