quarta-feira, 19 de junho de 2019

Manuscritor e profetas da desgraça

Li que foram descobertas mais duas terras. Fiquei apreensivo, apesar da notícia já poder ser antiga. Agora é moda andarem a descobrir terras por dá cá aquela palha. Percebo que os astrónomos tenham de passar o tempo de qualquer maneira, mas descobrir terras não me parece a mais honrosa. Basta olhar para esta que nos coube e afastar, por uns instantes, a cortina das belas paisagens e das boas acções, para logo se ter uma ideia real do que é uma terra. Um sítio que não se recomenda nem a um inimigo. Por falar em coisas pouco honrosas, também eu tive de ir comprar um material de escrita, pois os próximos dias vão obrigar-me a voltar a escrever manualmente. Numa era tecnológica como a nossa, escrever manualmente é prova provada de que se é um indigente de alto calibre. Além do mais, fico com dores nas costas. Pensando nisso, após comprar o material de escrita, um material reles e barato, fui comprar uns analgésicos. Uma pessoa pode ser indigente, mas precavida. Uma coisa, porém, posso assegurar. Escrever manualmente, ainda o farei, apesar de contrariado, mas nunca me apanharão a descobrir terras, a focar telescópios em estrelas e exultar de alegria porque houve uma intercepção na radiação luminosa, por causa de uma miserável terra passar, ofegante e mal educada, em frente da estrela. Manuscritor, ainda vá que não vá, agora profeta da desgraça, nunca.

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