sábado, 8 de junho de 2019

O começo do futuro

Pego na National Geographic de Abril e abro-a ao acaso. O tema é as cidades do futuro e desenrola-se à minha frente um sem número de utopias que nos hão-de salvar da perdição. Fecho a revista. O futuro cansa-me e mais ainda os profetas, os planeadores e todos os que têm uma redenção fácil ali mesmo à mão, pronta para nos retirar do purgatório, ou mesmo do inferno, em que vivemos. Talvez a minha cidade também tenha um futuro, o futuro de não ter futuro e, assim, se arraste como uma tartaruga, lenta e pausadamente, sabendo que tem todo o tempo do mundo e que, por mais vagarosa que seja, há-de sempre vencer o veloz Aquiles. Não sei como é que a revista veio parar onde está, mas também não me interessa o enigma. Algum dos filhos a trouxe e a deixou por ali, também ele já exausto de futuro. Os sábados que têm uma segunda-feira de feriado à sua frente são dias esplendorosos. Enrolo-me neles e deixo passar as horas, vejo-as desfiarem-se e desaparecerem nessa garganta funda que é o passado. Nos jornais descubro que, em Nova Iorque, uma centena de seres humanos se despiram para protestarem contra a censura dos mamilos femininos no Facebook. Fico mais tranquilo, o mundo, apesar do futuro, continua a ser o que era. Uns vestem, outros despem. Talvez vá dar uma volta e procurar o lugar onde, aqui mesmo, começa o futuro.

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