quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Hooligan

A Antena 2, estação de rádio a que sou fiel, tanto quanto posso, há décadas, tem o condão de me exasperar. Sintonizo-a e apenas quero ouvir música, mas, por vezes, a estação insiste em servir-me uma conversa que, vá lá saber-se a razão, me há-de tornar culto. Dispenso, de mau humor, o enriquecimento oferecido e viajo para o spotify ou para o youtube, só para não ter trabalho de pôr um CD ou um LP. Nesses momentos de exaspero, fico na dúvida se serei um bocadinho autista, como se diz cá por casa, ou se não passarei de um hooligan, daqueles a que refere Jason Brennam no seu livro Against Democracy. E enquanto selecciono os Nocturnos, de Chopin, pela Brigitte Engerer, penso que, nestes  dias, tornei a constatar que estou rodeado de hooligans políticos. Uns mais amáveis e amenos, outros mais exaltados e exasperados, mas quase todos hooligans. Vulcanos, esses são raros, muito raros, embora os haja. Mas mais que a política, é a conversa atoleimada, a que me há-de salvar da incultura, que me aproxima do hooliganismo. Um dia destes talvez fale de hobbits, hooligans e vulcanos, caso não tenha mais nada para dizer.