terça-feira, 24 de outubro de 2017

O fim do mundo

Dei comigo a cismar sobre O Leopardo, de Visconti. Acontece-me, por vezes, a memória, sem que eu perceba porquê, voltar a esse filme. O que me prende nele, como num sonho recorrente, é a cena inicial, a da oração do terço, e a final, a do baile. Entre estas duas, é um mundo que se afunda na ruína e outro que desponta. Assaltam-me imagens das contas a deslizar pelos dedos dos que rezam entrecortadas por outras, onde os pares rodopiam no salão de baile. E eu não sei, juro que não sei, se um mundo, outrora sólido e garboso, acaba com uma oração ou se com uma grande festa. Se num mistério doloroso ou se numa promessa gozosa.