sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Teoria

Tenho um aluno, aliás excepcional, que parece ter desenvolvido um enorme interesse pela política. Apercebi-me que esse interesse nasceu mais ou menos com a mesma idade em que eu despertei para o fenómeno. É evidente que, devido à distância geracional, os espaços ideológicos que exerceram essa atracção são muito diferentes. Comum é que no centro desse interesse pela política há um enorme fascínio pela teoria, pela explicação do mundo e pelos argumentos que suportam essa explicação. O que não sabem, aqueles que muito novos são fascinados pela teoria, é que esta é como a ideia das quatro estações. O clima recusa-se sempre a cumprir os prazos determinados pelo calendário, como se vê agora, em que um dia destes entramos no Inverno sem ter saído do Verão. No fundo, as teorias são revoltas contra a realidade, uma espécie de libelo acusatório contra a desordem do mundo, e quando se está na primeira juventude, como eu mesmo experimentei, a desordem do mundo é inaceitável. A teoria parece então simplificar e ordenar esse caos patológico. Depois, percebe-se que a desordem é a própria natureza do mundo e o fascínio pela teoria perde o encantamento. Deixa de ser um espaço mítico e passa a ser um instrumento de trabalho, quanto menos rígido melhor, para lidarmos com a vida e o mundo. Isso, porém, é uma experiência que cada um faz por si mesmo, percorrendo o caminho que escolheu ou que o escolheu. O pior é mesmo o Outono hesitar em ser Outono e querer continuar Verão.