quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O reino da anomalia

Os dias quentes deste Outubro alucinado correm engavinhados à inutilidade. Esta não é uma negação do útil, mas um florescimento de anomalias que se tornam tudo o que um certo modo de vida pode conter, até que não seja outra coisa senão uma grande e monótona anomalia. Quando se escolhe ou aceita um modo de vida anómalo, o mais certo é que se viva na sombra da anomalia. Por vezes, um vento desassisado desce sobre nós como o Espírito Santo, em línguas de fogo, desceu sobre os apóstolos. É o nosso dia de Pentecostes. E então falamos em diversas línguas e profetizamos sobre o fim do reino da anomalia, mas não há ninguém para ouvir. O entardecer inclina-se sorrateiro para a noite e recordo-me da minha velha gata. Eu falava e ela ouvia. Depois, miava e saltava-me para o colo a ronronar, enquanto eu lhe passava a mão pelo dorso. E tudo estava no seu lugar.