terça-feira, 31 de outubro de 2017

Os castanheiros da avenida

Quando, hoje de manhã, atravessei a avenida marginal, havia nos castanheiros um silêncio ruidoso, quase agreste, talvez uma atitude de desafio aos que, como eu, por ali passam sem os ver, ou, talvez mais indesculpável, só os vendo naquela época do ano em que o seu ser se exibe numa floração sumptuosa, que cativa os olhos e os obriga a erguer-se às copas. Uma pessoa vai por ali, enclausurado no carro, a ouvir música, e enrodilha-se no primeiro oximoro que lhe aparece e logo começa pensar em silêncios ruidosos ou na paz conflitual que a envolve. E por uma súbita associação de ideias percebe que o silêncio ruidoso dos castanheiros é uma metáfora de certos ambientes que frequenta, o horizonte onde se inscreve aquilo que diz. Nunca é tempo perdido falar com castanheiros ou carvalhos, ou mesmo a velha oliveira que o tempo deixou esquecida num relvado posto ali para que se pensasse que somos civilizados.