domingo, 15 de outubro de 2017

Vento de Outono

Ao abrir a janela, atingiu-me uma lufada de ar quente. Afinal, as previsões confirmam-se, ponderei. Chegaremos aos 35º. Não sei o que hei-de pensar desta minha nova obsessão com o estado do tempo. Temperatura de Verão, mas a cor da luz não engana ninguém. Os prédios, onde ela se reflecte, ostentam agora um ar de melancolia tão distante da irritante jactância com que se mascaravam nos dias mais violentos de Julho e Agosto. As pessoas passam enroladas em conversas de domingo. Dois cães olham-se, medem-se, ganem e afastam-se de rabo a abanar. Os domingos são assim, disse para mim, territórios onde nem os cães gostam de se confrontar. O folhedo caído, levanta-se enovelado pelo vento. Este não engana. É o velho vento de Outono. Tenho sede. Fecho a janela e recolho-me reconciliado.