segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Segunda-feira

As segundas-feiras, com o seu excesso de realidade, não deixam de ser dias enigmáticos. São como uma rede desmedida que captura os homens no mar do ócio e os descarrega no porão do trabalho, onde prestam o forçoso tributo à necessidade. Também eu sou levado na rede e, ao cruzar-me com outras vítimas da grande captura, nunca deixo de me espantar com o seu ar de felicidade. São múltiplas as causas que movem os homens, penso então, perdido nestas manhãs de frio cortante. O melhor é entregar a felicidade de cada um àquilo que o anima e deixar-me de enigmas com temperaturas tão baixas. Metáforas não aquecem ninguém e, numa sala sombria, haverá gente à minha espera, para que eu lhe fale de coisas que ninguém quer ouvir e que eu, se não tivesse tanta propensão para a irrealidade, me absteria de dizer. Não são dias fáceis as segundas-feiras. E o pior é que não chove.