quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Beco sem saída


Quando hoje passei pela ponte do Raro e olhei as águas lembrei-me de uma velha canção de Simon & Garfunkel, Bridge Over Troubled Waters. Uma lembrança a despropósito, como me acontece com frequência. Nem a minha disposição é de andar a distribuir consolo, nem as águas do rio, do rio da minha aldeia, quase o digo, sonham sequer em ser turbulentas. Estas súbitas aparições do passado não deixam de ser misteriosas. Seguimo-las e não deixamos de ir dar a becos sem saída. Quantas vezes passei por aquela ponte? Quantas vezes, num tempo tão distante, terei ouvido aquela canção? E tudo o que me motivou num e noutro caso tornou-se tão obscuro que sinto crescer dentro de mim uma dúvida sobre se alguma vez atravessei a ponte ou ouvi a canção. E assim lançada, a minha mente já se precipitava para uma meditação metafísica sobre a irrealidade da existência. O que me valeu foi o semáforo ter aberto. A salvação está em qualquer lado, até num semáforo perdido numa cidade que, também ela, parece um beco sem saída.