domingo, 11 de fevereiro de 2018

Na hora anunciada


Mesmo se sombrios, são gloriosos os domingos, os que não possuem uma segunda-feira no horizonte, pensei ao chegar à janela. O céu cinzento não é uma ameaça mas uma promessa, ilusória como toda a promessa, de uma eternidade mesmo ali ao alcance da mão. E recolhi-me nessa fantasia, ruminando projectos e arquitectando obras, semeando o porvir de esperanças para as quais, sei-o bem, ele não está disponível. Um pombo lacera o céu, plana de asas hirtas como se não houvesse gravidade, sustido pelo vento e pelos meus olhos que não se desprendem daquele voo. E nesse breve instante a eternidade manifestou-se, suspendendo o tempo, e falou com a sua língua de fogo para que eu a escutasse. Fechei os olhos e ao abri-los não havia pombo, nem língua de fogo, nem a eternidade falava dos seus segredos no fundo do meu coração. É domingo e a segunda-feira já se ergueu para pôr os pés ao caminho e chegar aqui na hora anunciada.