domingo, 25 de fevereiro de 2018

Memória


Temos uma certa crença fundada em experiências antigas – por exemplo, o caminho que liga duas povoações e que foi percorrido inúmeras vezes nos anos setenta do século passado – e estamos certos dessa crença. A certa altura passa-se, dizemos ufanos a quem nos acompanha, por aqui e por ali. Depois, descobre-se que não se passa nem por aqui nem por ali e ficamos perplexos sem saber se já não se passa ou se nunca se passou. A memória é um poder estranho e pouco confiável. Quando pensamos que ela reproduz uma realidade vivida, ela logo nos mostra que a sua função é inventar vidas que nunca existiram, caminhos que nunca foram percorridos ou acontecimentos que nunca aconteceram. Ou talvez tudo isto seja uma história dominical, onde os caminhos do fim-de-semana não coincidem, por respeito ao ócio, com os dos dias úteis, subjugados que estão à corveia que a existência nos impõe.