quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Coisas sem sentido

É um facto que a perversidade – tal como a bondade – pode atingir limites extremos. Existem dilemas éticos que nascem da perversidade dos homens, do acaso da existência ou da imaginação. Alguns são dilemas que merecem ser pensados, como o chamado dilema de Sofia, baseado num caso presente num romance de William Styron, Sophie’s Choice, que foi adaptado, posteriormente, ao cinema. Nele, a personagem, Sofia Zawistowska, uma detida no campo de concentração de Auschwitz, é posta, por um oficial nazi, perante um dilema maligno: ou escolhe um dos seus dois filhos para ir para a câmara de gás, salvando o outro, ou irão ambos. Não sei se o caso é meramente ficcional, mas a maldade humana é muito capaz de o pôr em prática na vida real. Eis um dilema ético sério, pois implica uma escolha trágica. Há, por outro lado, dilemas éticos idiotas. Por exemplo, o seguinte: Um médico tem cinco pacientes que morrerão se não receberem transplantes de órgãos. Um sexto paciente saudável, sem família, aparece para um check-up. Se o médico retirar os órgãos desse paciente saudável, salvará os outros cinco, mas matará o sexto. A pergunta que o dilema coloca é se será moralmente aceitável matar o paciente saudável para salvar os outros cinco. Quando se acha que isto é um dilema, que esta situação coloca uma verdadeira situação trágica, então já se perdeu por completo a sensatez e o sentimento moral – já não digo o juízo moral – está completamente degradado. Quando se imagina que essa situação é problemática, então já se entrou no declive escorregadio que poerá conduzir à perversidade do oficial nazi.

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