Os dias passam, agora, cada vez mais rapidamente, numa cavalgada sem freio. Por vezes, tento agarrar as horas, mas nunca se deixam prender. Quando parece que as tenho bem seguras nas mãos, elas escapam-se-me pelos dedos, incomodadas pelo aperto a que tento submetê-las. Nem sempre as horas foram assim. Lembro-me de um tempo muito antigo em que elas pareciam intérminas. No relógio, o ponteiro dos minutos deslocava-se com uma lentidão que me enlouquecia, enquanto o das horas parecia imobilizado na eternidade. Esse desejo imaturo de que o tempo passe mais depressa nunca devia ter sido desejado. O tempo, esse que então não passava, tratou de o realizar, dando-me horas feitas de minutos tomados pela febre da velocidade. Foi devido a isso que perdi hoje uma reunião. O tempo passou tão depressa que nem dei pela sua passagem. A reunião foi-se. Devia dizer não que perdi uma reunião, mas que a ganhei. Para quem nasceu com alma avessa a certo tipo de convivialidades, perder uma reunião é ganhá-la. As pessoas – refiro-me à generalidade e não a todas – amam reuniões, assembleias, congressos. Marcam presença e ficam convencidas de que existem. Nada pior do que pessoas que precisam de se convencer da sua existência. A minha existência, por exemplo, é coisa por provar. Se penso, se escrevo, se falo, não existo? Provavelmente. Se existisse realmente, que necessidade teria de pensar, de escrever, de falar?
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