Este doze de Dezembro fez-me lembrar o Natal. Não o Natal real, mas um Natal idealizado, arquetípico. Por certo, os natais arquetípicos são diferentes de país para país, isto naqueles em que o acontecimento faz sentido. No meu caso, o Natal arquetípico tem frio, mas não chuva. Tem sol, uma luz vibrante, mas a necessidade de roupa adequada para enfrentar o destempero do tempo. Foi o dia estar frio, aquele frio que nos leva a fugir das sombras e a procurar os espaços iluminados pelo astro regente deste sistema perdido na periferia da galáxia, que me trouxe tudo isso à memória. Em tempos, os seres humanos pensavam que viviam num condomínio luxuoso – embora cravado até ao pescoço no vício – no centro da capital. Hoje, a visão é outra. Habitamos a periferia da periferia, num galinheiro a cair de podre. Já mudei de assunto, mas foi de propósito. O outro rendia pouco. Essa descoberta de que éramos suburbanos foi o resultado do trabalho conjugado de Copérnico, Kepler e Galileu. Alguém, maldoso, disse que constituía uma ferida narcísica. E assim como ainda não recuperámos da queda adâmica, também o nosso ego não se curou do golpe dado por astrónomos mais interessados na descrição do universo do que na saúde mental da humanidade. Com o ego a sangrar, não admira que a humanidade se comporte como comporta, não espanta que nem dê por estes magníficos dias de sol, onde o meu Natal arquetípico se manifesta, talvez como paliativo da minha ferida – humana, demasiado humana – de não habitar no centro do universo, mas na periferia de uma galáxia perdida numa terra sem nome. A ferida narcísica de não passar de um suburbano.
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