Estamos a 20 de Dezembro, e o estado do mundo não me parece muito saudável. Isso, todavia, não é uma novidade. É da sua natureza estar doente. O mundo sofre de uma patologia crónica. Mesmo nos bons momentos, caso existam, continua doente. Não geme, mas a palidez que lhe recobre a face não permite outra conclusão. Outras alturas, além da doença crónica, de ordem física – os organismos sociais não chegam a ter uma natureza biológica, não passando de estruturas mecânicas –, o mundo sofre de acentuada paranóia. É para lá que se caminha. Ora, quando uma ordem mecânica se torna paranóica, aquilo que podemos esperar não é o internamento compulsivo dessas massas nos hospícios, mas vê-las a ditar ordens e a serem servidas por aqueles que deveriam trazer ordem e razão. Nestes momentos, a doença do mundo torna-se aguda. Inflamado, começa a borbulhar em incêndios. As consequências são sempre piores do que se espera. Com esta análise, este narrador desocupado deu um precioso contributo para uma hermenêutica da realidade, coisa que todos afirmam ser a casa onde vivem, mas que ninguém sabe o que é. Há dias que aqui se narram os feitos heróicos que constituem a gesta do narrador. Não havendo gigantes a vencer ou eixos para pôr no lugar, o narrador contribui com a sua especulação não apenas para a elevação da metafísica a ciência – coisa que nem Kant percebeu ser possível –, mas ainda para o diagnóstico da moléstia viciosa que se apoderou do mundo desde que o homem, ao entrar nele, o constituiu. Esta última afirmação parece bizarra, mas deverá ser considerada como um koan para meditação, caso alguém queira dedicar-se ao Zen.
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