O
último dia do ano pouca diferença tem do primeiro dia do ano seguinte, disse-me
há pouco um amigo a quem telefonei para dar os parabéns. Não sei, continuou, se
é preciso mais pontaria para nascer no último dia do ano ou para o fazer no
primeiro. As minhas reflexões sobre o calendário nunca tinham chegado a este
capítulo, mas também não nasci no último dia do ano; nem no primeiro. O ano
despede-se. Fá-lo como o fazem todos os anos. Em silêncio. Os homens, porém,
não se calam e hão-de encher o planeta com o seu vozear sem fim. Daqui a pouco
irei fazer uma caminhada, coisa pequena, pois suponho que estará frio na rua. O
próprio Sol parece ter perdido energia, mas isso é uma ilusão. Ele continua a
arder com vigor, numa afirmação de poder que nós, seres humanos, agradecemos,
mas que não deixamos de temer, pois não nos vá acontecer como aconteceu ao pobre
Ícaro. Lá fora, uma criança chora, o baloiço range, os transeuntes apressam-se,
talvez tenham um réveillon. Não, não, dantes é que havia réveillons,
hoje não se usam palavras francesas para designar coisas dessas. Aquiesci, mas
não faço ideia do que seja a New Year’s Eve. O melhor é não me meter por
esse caminhos e meditar, enquanto caminho, na passagem de ano. Amanhã será outro ano. E outro dia.
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