segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Consultório matrimonial

Descubro que as redes sociais – pelo menos aquela que, por desfastio, visito, mas imagino que as outras também – estão ao rubro por causa de um beijo público, e logo nos lábios, entre uma jogadora de futebol e um presidente da federação daquele desporto. Sobre o assunto, não tenho qualquer opinião, pois não conheço as circunstâncias, e como ensinou Ortega y Gasset, já que o caso se passa entre espanhóis, o homem é o homem e a sua circunstância, o que também se aplicará à mulher. Depois do post de ontem, onde abordo a difícil temática da dissolução do matrimónio, também posso, no de hoje, dar conselhos para o caso daquele beijo acabar em casamento. Consta – ou constou-me em tempos através de fonte bem informada – que, antigamente, quando não havia astrólogos intelectuais cheios de cursos e pós-graduções, as previsões astrológicas dos jornais, incluindo os de referência, eram entregues aos jornalistas estagiários. Faz aí os horóscopos, diziam-lhe, para acalmar a ansiedade dos caranguejos, dos touros, dos leões e, acima de todos, dos virgens. Assegura-lhes que é agora que... e acabavam a frase sempre nas reticências, o que causou engulhos em alguns candidatos, pouco dados à hermenêutica astral. Já não tenho idade para estagiário seja do que for, mas posso exercitar-me como conselheiro matrimonial, com o mesmo grau de competência que os jornalistas estagiários tinham em astrologia. Para começar, não me parece boa ideia um casamento entre uma jogadora de futebol e o presidente da respectiva federação. O motivo é kantiano. A relação hierárquica existente destrói a reciprocidade que, segundo Kant, deve existir em qualquer casamento. Daí, ele ser contra os casamentos de pessoas de classes sociais diferentes. Não por preconceito, mas por defesa da igualdade daqueles que dão esse terrível passo – o matrimónio – para poderem desfrutar do sexo do outro. Mantenho-me na linguagem de Kant, note-se. É verdade que este em matéria de casamentos tinha tanta competência quanto os tais jornalistas estagiários em astrologia, se é que neste campo pode existir qualquer competência. Provavelmente será mentira  mais um dos mitos que se criou à volta do professor Kant  mas quando, em velho, lhe perguntaram por que motivo não se tinha casado, terá respondido: quando precisava de uma mulher, não tinha dinheiro para ela; agora que tenho dinheiro, não preciso dela. Juro que me contaram isto. Munido destas informações, talvez abra aqui um consultório matrimonial, a que por certo não faltará sucesso. Tenho uma alma de empreendedor.

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