quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Vida quotidiana

Por aqui, o Sol ainda não deu um ar da sua graça, remetido para lá da muralha de nuvens. Estas deixam coar uma luz esbranquiçada e indecisa, que o vento faz rodopiar, antes de a levar para outras paragens. Parece que há, no que escrevi, uma incongruência. Que eu saiba, o vento, com o seu passo arrastado, mesmo se sopra a muitos quilómetros por hora, não tem o condão de arrastar consigo as ondas-corpúsculos que constituem a luz. Ora, se eu escrevesse apenas coisas com congruência, o mais certo seria não escrever nada. O que me impede de imaginar os fotões a serem empurrados pelo vento? Hoje, após quase um mês calcei sapatos, sapatos a sério e fui com eles ver o mar. Estava orgulhoso de ter os pés calçados como deve ser e ser levado por eles desde o carro até à esplanada, como se tudo tivesse voltado à normalidade, o que é quase verdade. Durante a estadia na esplanada, chegou um grupo de jovens casais espanhóis, carregados com filhos pequenos. Elas foram tirar uma fotografia num barco que faz parte da decoração do estabelecimento, enquanto eles tomavam conta da criançada e lhe aprontavam a comida. Falavam num castelhano sem exuberância e apenas uma criança, ainda no carro de bebé, chorou. Depois, acabaram por se ir sentar fora do alcance da vista e fiquei sem história para contar. Tenho de suspender estas idas à esplanada, pois caio sempre na tentação de comer um pastel de nata, coisa que, com a minha idade, seria de bom tom evitar. Por volta do meio-dia, no retorno da tal malfada esplanada, as minhas netas ligaram. A mais nova estava eufórica, pois quando caminhavam não sei bem para onde, viram o Papa. Gritaram, elas e as amigas, e ele voltou-se para elas, certamente para perceber que barulho seria aquele. Um acontecimento, para contarem aos netos. Tenho de diminuir a verborreia.

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